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CINEMA

 

O IGGY Cultural - Cinema é um espaço cultural em nosso site voltado  para a reflexão, a divagação e produção de conhecimento  no cotidiano. Aqui você tem acesso a lançamentos, filmes do circuito e clássicos que versem de ecologia a filosofia. Críticas, análises e resenhas cinematográficas.

Porque cinema  também é a nossa "Vibe".

Sonia Rocha

Acredito na vida acima de tudo. Curto artes plásticas, música e cinema, e só de pirraça procuro ser  original. Crítica cinematográfica, professora de Filosofia e História e pesquisadora de cinema, por que de vez em quando a gente tem que se fingir de sério.

Negócio das Arábias

Negócio das Arábias

Por Sonia Rocha

 

As relações entre árabes e americanos nunca foi lá uma preciosidade, mas o filme de Tom Tykwer fala dela nos dizendo onde temos intersecções e o que pode nos unir de alguma forma, postulando que nada é impossível quando deixamos de lado normas e regras que só servem para nos distanciar.  E faz tudo isso sem desrespeitar aspectos culturais.

 

Baseado no livro de Dave Eggers o filme conta a história de Alan (Tom Hanks), um homem separado da mulher e com uma filha adolescente que não consegue alavancar a carreira. Recebe então uma oportunidade de seu chefe: a de abrir uma conta com os árabes para venda de tecnologia de hologramas. A princípio toma um chá de cadeira dos árabes em plena Arábia Saudita. Depois é tratado como os americanos tratam os árabes. Enfim, acaba se envolvendo com uma mulher saudita, Zahra (Sarita Choudhoury). E é aí que o filme é primoroso, no desenho dessa relação, nos links que os conectam e na forma com a qual a relação é administrada.

 

Premiado no German Film Award nas categorias de edição e trilha sonora, “Negócio das Arábias” é dirigido e roteirizado pelo alemão Tom Tykwer de “A Viagem” (2012), um filme super difícil de fazer pela própria estrutura da história, pelos seus personagens e contextos temporais a partir do livro de David Mitchel. Dirigiu também o belíssimo, “Perfume: A História de um Assassino” (2006), outro primor. Ou seja, caiu em boas mãos. A musica é de Johnny Klimek e é um pout pourri genial de músicas americanas e árabes, e a fotografia é de Frank Griebe. Uma confraria alemã que soube fazer de uma história cotidiana, sem muita aventura, uma sinfonia de ode a igualdade entre as pessoas, independente da cultura.

 

“A Hologram for the Kink” (no original), além de estrelado por Tom Hanks, é mais do que se espera de um filme que não se propõe a ser blockbuster nem filme cabeça, fica no meio do caminho com classe e merece figurar na videoteca de casa para se assistir de vez em quando.

 

Disponível nas plataformas streaming, on demand ou online, como queiram. (Itunes, YouTube e afins)

 

Assista o Trailer aqui

 

Ficha técnica:

Título original: A Hologram fo the King

Direção: Tom Tykwer

País: Alemanha; Reino Unido; França; Estados Unidos; México.

Ano de produção: 2016

Duração: 98 Min.

Classificação etária: 14 anos

Distribuição: Mares Filmes

Estreia: 04-08-2016

Argentina

Argentina

Por Sonia Rocha

13/05/2017

 

Carlos Saura é famoso pelo nicho em que atua como diretor de cinema: o da dança.  Seu último trabalho foi “Jota de Saura” (2016) em que desfilam a cultura espanhola sob a égide de vozes e corpos dançantes. Em “Argentina”, Saura, mergulha no folclore argentino, na música mais enraizada daquela  cultura, tirando o costume do lugar comum e expondo para o mundo o que muito pouco se sabia sobre as origens da musica daquele país.

 

A partir de canções tradicionais e de artistas conhecidos e consagrados como Pedro Aznar e Juan Fabi, Carlos Saura traz para a superfície a alma da Zonda, um ritmo folclórico argentino. Em “Argentina” Saura explora a herança cultural dos pampas latino/espânico e faz um turismo pelo passado e futuro do gênero, nos dando uma visão particular da arte daquele povo.

 

Quanto às tecnicalidade, o departamento musical ficou por conta de Lito Vitale, compositor de “Elsa & Fred” (2005) e o departamento de arte é assinado por Agostina de Francesco de “Relatos Selvagens” (2014). Por sua genuinidade o longa foi indicado a melhor documentário no Academy of Motion Picture Arts and Sciences of Argentina e ao grande prêmio do júri do Miami Film Festival.

 

“Argentina” é mais um olhar cuidadoso de Carlos Saura para a cultura de um país através de sua música e sua dança. “Argentina” é  Selo de qualidade Saura, e isso não é pouca coisa.

 

Assista ao trailer

 

Título original: Zonda: Folclore Argentino

Direção: Carlos Saura

País: Espanha/Argentina/França

Gênero: Musical/Documentário

Ano de produção: 2015

Duração: 85 min

A Última Lição

A Última Lição

Por Sonia Rocha

26/03/2017

 

De uns tempos para cá o cinema tem trazido à baila o tema da eutanásia. De formas diferentes, com abordagens também diferentes, e até com pegadas variadas que vão do humor, passando pelo romance até ao existencialismo. “A Festa de Despedida” (2014)de Sharon Maymon e Tal Granit, com um viés de bom humor, trazia um grupo de velhinhos que havia inventado uma máquina de autoeutanásia e somente privilegiavam o uso para casos sérios de comprometimento da dignidade. Em “Como Eu Era Antes de Você” (2016) de Thea Sharrock a abordagem é a do romance, a do amor e a do direito de se escolher não mais viver quando em vida não há vida, com um argumento muito bem construído. Em “A Última Lição” a pegada é existencialista e quem conduz o argumento é a própria ‘vítima’ e o discute com a família e com naturalidade. O que choca a todos.

 

Madeleine (Marthe Vilalonga) com 92 anos, sentindo todas as limitações da idade, comunica a família em seu aniversário, que tomou a decisão de partir da vida. Com lucidez, bom senso e usando os próprios métodos,  muito bem pensado, diga-se de passagem   para   evitar   comprometer   legalmente   alguém   da   família.   O   filho,   Pierre(Antoine Duléry)  se indigna; a filha, Diane (Sandrine Bonnaire) fica atônita, os netos entendem, mas não compreendem. E a saga reside em mostrar o quanto a vida de Madeleine  está limitada e já não faz mais sentido como vida. O fato aproxima mãe e filha. Traz memórias de infância e da maternidade. A abordagem dos dois momentos da vida – a maturidade e senilidade – é bem marcada e competentemente analogizadas.

 

A diretora, Pascale Pouzadoux, em seu quarto longa metragem empreende um olhar bastante feminino e sensível à questão e assume o tema polêmico de uma forma natural.Se Will Traynor (Sam Claflin)  em “Como Eu Era Antes de Você” assina um contrato legal na Suíça para a realização da morte assistida, Madeleine em “A Última Lição”arca com sua decisão sozinha, toma as providências, despede-se das pessoas e age com naturalidade. E é esse o grande mote do filme: tratar a morte com a mesma naturalidade com a qual tratamos a vida.

 

O filme é uma produção francesa, com atores conhecidos, uma diretora em seu processo de amadurecimento profissional e atuações dignas de aplausos.  Por questões culturais, em alguns momentos soa desconfortável. Mas, já está na hora de discutir a questão a sério. E ninguém melhor para dar esse pontapé do que a ágora escura – o cinema.

 

Confira o Trailer aqui

 

Título Original: La Dernière Leçon

Direção: Pascale Pouzadoux

País: França

Gênero: Drama

Ano de Produção: 2015

Duração: 105 min.

Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos

Distribuição: Esfera Cultural

Estreia: 22/12/2016

 

O Lamento

O Lamento

Por Sonia Rocha

 

“O Lamento” de Na Hong-kin é um filme sul-coreano que passeia pelas questões dos costumes locais relativos às crenças religiosas. Com uma história de mistério e horror muito bem construída, o filme, sem grandes efeitos especiais se sustenta com atuações soberbas. “O lamento” é um conto de horror sobre a batalha entre o bem e o mal.

 

Numa vila em Goksund, na Coréia do Sul, um oficial de polícia, Jong-Goo (Kwak Do-won) investiga mortes por uma doença bizarra. Em paralelo, há rumores de que um estranho japonês (Jun Kunimura) , que habita as montanhas seja o espírito responsável pelas doenças e possessões. Uma diligência é mandada à casa do japonês composta do oficial Jong-goo, seu parceiro e um padre que fala japonês. A partir daí outras pessoas são infectadas e um xamã é contratado para limpar o ambiente enquanto uma misteriosa mulher sem nome (Chun Woo-hee) alerta a família do policial sobre o que pode estar acontecendo. “O Lamento” conta uma história dividida em camadas que se conectam, com personagens que têm encaixes na cultura de sincretismo religioso da Coréia do Sul.

 

A direção e o roteiro ficaram por conta de Na Hong-jin de “O Caçador” (2008) e o que se destaca são as atuações. Do conhecido e veterano Jun Kunimura de “Kill Bill Vol 1 e 2” à revelação Kim Hwan-hee – a menina Hyo-jin – filha do policial. Toda a história é sustentada por atuações fortes e poderosas. “O Lamento” foi laureado com  o Dragão Azul de melhor roteiro, melhor música e melhor coadjuvante para Jin Kunimura, que também levou o prêmio da audiência. E o Grand Bell Awards de: fotografia, edição, som e revelação para Kim Hwan-hee. Para  melhor nos referenciarmos, em termos ocidentais, “O Lamento” tem remetências em “O Exorcista” (1973).

 

Com cenas chocantes, fortes e violentas, cujo grande mérito, depois das atuações, são a maquiagem e a edição, “O lamento” é um dos filmes sul-coreanos que despontaram em 2016 com uma linguagem ocidentalizada, como “Um dia Difícil” e “Invasão Zumbi”. A primorosidade de “O Lamento” está em sua forma artesanal. O longa é um bom catalisador para pensar o quanto não precisamos de super tecnologia para contar uma boa história.

 

 

Assista ao Trailer!

 

Título Original: Goksung

Diretor: Na Jong-Jin

Gênero: Suspense/Policial/ Drama/ Terror.

Ano de produção: 2016

País: Coréia do Sul/USA

Classificação indicativa: 16 anos

Distribuidora: Califórnia Filmes

 

Estreia: 22/12/2016

 

Amnésia

Amnésia

Por Sonia Rocha

06/12/2016

 

O tema amnésia nos reporta a filmes diferentes, em relação a gênero, diretores, e abordagens. Do suspense policial ao  error, de Christopher Nolan a  Michael Polish em sua respectivas obras: “Memento” (2000) e “Amnésia” (2014), entre outras tantas. Eis que chega a vez de Barbet Schroeder abordar o tema com uma pegada dramática de cotidiano político no contexto do fascismo e do nazismo, através de relato de experiências e memória negada. Tudo isso pelo viés alemão através do subterfúgio do esquecimento proposital de quem foge da Alemanha na Segunda Guerra  Mundial por não suportar o que vê. E a partir daí nega qualquer lembrança e vínculo com a cultura do país, numa saga de memória histórica e pessoal atravessada pela música.

 

“Amnésia” de Barbet Schroeder conta a história do encontro de Martha (Marthe Keller) e de um jovem de 30 anos, Gello (Max Riemelt) em Ibiza. Ambos alemães, de gerações diferentes e com visões diferentes de seu país. Martha viu os horrores da 2ª Guerra quando perdeu o namorado judeu. Fugiu da Alemanha e passou a negar qualquer fomento de memória e conexão com a cultura e o lugar. Dos vinhos, aos carros, da música ao idioma e foi se refugiar em Ibiza numa solidão escolhida. Nos tempos atuais encontra Gello um DJ que tenta a vida compondo músicas diferentes para animar festas em casas noturnas. Em Ibiza está capturando sons para seu novo trabalho quando é convidado para tocar numa boite chamada amnésia – uma boa metáfora para o filme.

 

Desse encontro surge um encantamento e a conexão é a música. Quando Martha conhece os pais de Gello, também alemães e da mesma geração que ela e,  que têm as mesmas memórias e agem diferentes em relação a elas, tudo vem à tona.  A abordagem são sobre dois tipos de amnésia: a da fuga e a  do convencimento de que, o que ali está é outra coisa. O modo como Schroeder e os outros três roteiristas fazem isso é magistral. Através de conversas, argumentações e exposições de sentimentos. Barbet Schroeder, Peter Steinbach, Emile Bickerton e Susan Hoffman mostram  uma memória apagada de propósito. No primeiro caso por quem não queria ver e inventa para si uma outra versão mais amena, mais conivente com seus valores; no outro por quem não suportou e forçou um bloqueio eterno. A discussão se transforma em uma missão de encontrar quem está certo, quem agiu melhor. Toda  essa tensão é  abençoada pelo céu e pelo sol de Ibiza, num contraste de cor geniais.

 

Mais uma vez se fala sobre fascismo,  nazismo e Segunda Guerra Mundial a partir do lado alemão. Foi assim em “13 Minutos” (2016) e Labirinto de Mentiras” (2014), ambos com ares de História. É assim em “Amnésia” em formato de relato de experiências. O diretor iraniano manda bem nas conflagrações argumentativas e na apresentação das diferentes versões  para quem não viveu a história – Gello e o expectador – e ainda inova quando põe o amor como algo além do aspecto carnal.

 

“Amnésia” é uma babel de idiomas – inglês, francês, espanhol e alemão – uma mistura de costumes, estilos, gerações e visões de mundo costurado pela fuga da poda das diferenças. Içando a diferença a patamar de argamassa que une o humano e o define. E o viés é a lucidez de Martha. O irã também pensa as diferenças em outros territórios. Salve, Barbet Schroeder!

 

Assista ao Trailer!

 

Título original: Amnésia

Diretor: Barbet Schroeder

País: Suíça/França

Gênero: Drama

Ano de Produção: 2015

Duração; 96 Min.

Classificação etária: Não recomendado para menores de 10 anos

Distribuição: Imovison

Estreia: 27/10/2016

 

 

O Lar das Crianças Peculiares

O lar das Crianças Peculiares

Por Sonia Rocha

 

01/11/2016

“Tem um mundo novo chegando”

 

Uma história fabulosa. Uma jornada de fantasia no tempo e na História. Uma viagem gótico/lúdica sobre maldades e pureza. Um compêndio filosófico sobre a vileza humana, a proteção de inocentes e o poder das diferenças. Assim se pode definir, em essência, a obra cinematográfica mais recente do visionário Tim Burton.

 

Baseado no livro “Crianças Peculiares” de Ransom Rigges e ancorado nos preceitos filosóficos de Ralph Emerson, o roteiro foi escrito por Jane Goldman de “Kingsman: Serviço Secreto” (2014) e “X-men: Dias de Um Futuro Esquecido” (2014). E consiste no seguinte: em uma fenda no tempo criada por Miss Peregrine (Eva Green) no dia 03/09/1943, em plena Segunda Guerra Mundial, a casa que abriga crianças com poderes especiais se mantém existindo para proteger a pureza a inocência e os talentos que possivelmente, mudarão o mundo. Nesta casa espera-se pela visita de Jake (Asa

Butterfield) um menino comum, para que com sua ajuda se possa combater o vilão Barron (Samuel L. Jackson). A guardiã é Miss Peregrine e a aventura é a explosão do tempo com passado e presente acontecendo juntos.

 

Encarado como uma história fantástica ou um conto de fadas, tudo é muito natural e criativo. Visto pelo aspecto de analogia o longa-metragem faz um paralelo com a perseguição aos judeus e a encarnação do mal no fascismo e o faz contando uma história para crianças com ludismo e cheio de fantasia. Não por acaso, o contexto é a Segunda Guerra Mundial, não por acaso se combate o nazismo, não por acaso tem-se experiências genéticas, não por acaso em 2016 em que uma onda de extrema intolerância devasta o mundo.

 

Tim Burton é famoso por sua arte gótica, sua veia extremamente alegórica, como vemos em: “Os Fantasmas se Divertem” (1988); em “Edward Mãos de Tesoura” (1990); em “A Noiva Cadáver” (2005) ou em Frankweenie” (2012), entre outros tantos competentes trabalhos. (Os dois últimos lhe valeram a indicação ao Oscar). Tim Burton, brincando, também é político. E a grande sacada desse filme é sê-lo para as crianças, na linguagem deles, sem bifurcar as abordagens como faz a Disney, por exemplo. Com uma linha de raciocínio para crianças e outra, dentro da mesma história para o adulto. Burton e Jane Goldman leva a mesma abordagem para os dois vestindo a obra de uma competente viagem fantástica. “O lar das Crianças Peculiares” é uma história de conexão com o tempo mas, mais do que isso é uma história de conexão com valores, e que chama a atenção para as repetições. O filme de Tim Burton fala da defesa dos talentos, do companheirismo, das diferenças e de sua utilidade no movimento do mundo. E incita o combate à vileza e à superioridade. “O Lar das Crianças Peculiares” é comparável a “Alice no País das Maravilhas” com toda a sua gama de fantasias e aprendizados e a “Crônicas de Nárnia” com toda a sua potencia de analogia, e vale mais do que pesa.

 

 

Assista ao Trailer

 

 

Título Original: Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children

Diretor: Tim Burton

País: EUA/Reino Unido/Bélgica

Gênero: Aventura/Drama

Ano de Produção: 2016

Duração: 127 Min.

Classificação Etária: Não recomendado para menores de 12 anos

Distribuição: Fox Film do Brasil

Estreia: 29/09/2016

A Conexão Francesa

A Conexão Francesa

Por Sonia Rocha

 

“A Conexão Francesa” é uma coprodução entre França e Bélgica livremente inspirada em fatos reais e cinematograficamente referenciada no clássico americano de William Friedkin “Operação França” (1971). Filme esse que, além de lançar Gene Hackman ao estrelato ainda abocanhou cinco Oscars. A versão francesa de Cédric Jimemez remete ao “O Poderoso Chefão”, à “Família Soprano” e afins, numa mistura das gramáticas cinematográficas francesa e americana de dar gosto.

 

“La french” ( no original) conta a história de um recorte de tempo na vida do Juiz Pierre Michel (Jean Dujardin) que, titular da vara de menores de Marselha na década 70,  vivia às voltas com crianças viciadas em heroína. Até que foi posto como responsável pela vara de narcóticos e passou a chefiar pessoalmente as operações contra o mega traficante Gaëtan ‘Tany’ Zampa (Gilles Lellouche) e descobre conexões poderosas entre mafiosos italianos, americanos e franceses e, ligações com o território americano. O filme faz uma jornada pela atuação de Pierre Michel e o desbaratamento do caso, e é de extremo realismo.

 

Cédric Jimenez está no seu quarto longa-metragem como diretor e, junto com Awdrey Diwan, escreveu o roteiro dessa aventura da vida real, cujo registro sobre o império sangrento de Tany Zampa, suas conexões e modus operandi são detalhados. “A Conexão Francesa” insere, ainda, imagens de arquivo da época das reportagens e noticiários sobre os fatos. O longa-metragem trabalha magistralmente a liga entre os aspectos da realidade e as camadas ficcionais. As conexões das duas escolas de cinema, a francesa e a americana, são metáforas da própria história. A forma lenta e detalhada de contar a história é no estilo do cinema francês com seus silêncios e inflexões. Já a ação é notadamente americana e possui takes que nos fazem lembrar de “O Poderoso Chefão” e, outros ainda, que nos levam à “Família Soprano”. E essa junção fica bem personalizada na escolha de Jean Dujardin para o papel principal. Um ator francês oscarizado por “O Artista” (2011), com 48 filmes em sua carreira, 22 premiações e 38 indicações a prêmios. Uma estratégia de chamariz de público que funciona, embora Gilles Lellouche roube a cena.

 

O filme abocanhou os prêmios de melhor ator para Dujardin no Film Club’s the Lost Weekend 2015, o prêmio da audiência de melhor filme no Sarasota Film Festival, além de ter sido indicado ao César por design de produção e figurino e ao Lumière por roteiro. “A Conexão Francesa” é um filme com uma boa história, com uma abordagem detalhista e inteligente. Uma produção esmerada no quesito direção de arte que nos remete à década de 70 competentemente e com uma trilha sonora primorosa. Ou seja, vale o quanto pesa. Grandioso!

 

Acesse o Trailer: 

 

 

 

 

Título Original: La French

Direção: Cédric Jimenez

País: França/ Bélgica

Gênero: Ação/Crime/Thriller

Ano de Produção: 2014

Duração: 135 Min.

Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos.

Distribuição: Imovison

Estreia: 11/08/2016.

 

A Era do Gelo: O Big Bang

A Era do Gelo: O Big Bang

Por Sonia Rocha

 

Há muito que a versão brasileira dos títulos dos filmes é questionada. Em “Um Amor A Cada Esquina” de Peter Bogdanovich sua melhor tradução poderia ser “As Voltas que a Vida dá”. Em “Os Oito Odiados” de Quentin Tarantino, sendo fiel ao original e ao viés da história, seria “Os Oito Odiosos”. Agora é vez de “A Era do Gelo: O Big Bang” que quebrou todos os records de incoerência. Versando sobre a chuva de meteoros que extinguiu os dinossauros em que o título original é: “Ice Age: Collision Course” resolvemos traduzir como “A Era do Gelo: O Big Bang” que é outro evento da natureza que está a eras separado do evento abordado pela animação.

 

A questão já seria séria se voltado para um público maduro com redes de significação e conhecimento para questionar o fato, se agrava mais ainda quando se trata de uma animação voltada para crianças, com classificação livre e que ainda tem a pretensão de abordar os conceitos sobre outros fenômenos da natureza, tais como: tempestades elétricas, gravidade zero e a relatividade do peso sob a égide de mais de uma atmosfera. Ou seja, descredibilizou um trabalho que no original é muito bem feito e que tem a tradição de levar milhões de baixinhos para os cinemas.

 

A história do longa-metragem é simples, os roteiristas Michael J. Wilson, de “O Terno de Dois Bilhões de Dólares” (2002), Michael Berg da própria franquia da Era do Gelo, e Yoni Brenner de “Rio 2” (2014) resolvem contar a história sobre a possível causa da chuva de meteoros que extinguiu os dinossauros, numa galhofa gostosa que envolve diretamente o Scrat. O esquilinho atrás de sua noz foi parar no espaço e aprontou tantas que desequilibrou o universo. Aqui em baixo as coisas vão como deveriam, Manny (Ray Romano/Diogo Vilela) está ás voltas com o futuro genro, numa batalha de rivalidade e todos os outros personagens ao redor dessa história mãe, se virando em meio muitas situações inusitadas. E são eles quem pagam a conta das estripulias de Scrat. A brincadeira é bem desenvolvida, mantém o estilo da franquia e sua narrativa, que nunca teve a pretensão de chegar os pés da Pixar , mas cumpre bem seu papel. O que se destaca é a participação direta do Scrat no enredo, que normalmente era sempre periférica.

 

“A Era do Gelo: O Big Bang” funciona para crianças em termos de diversão, mas fica dissonante na versão brasileira, inclusive em relação ao trailer que insiste que o enredo é sobre a origem do Universo, quando não é. E todo esse inconveniente incorre em subestimação de inteligência do público para o qual se dirige e deixa um ar de desleixo. A equipe brasileira de tradução deveria receber uma chamada da Twentieth Century Fox Animation. Estão entendendo porque a Disney/Pixar são imbatíveis? Por isso, qualidade e respeito ao telespectador. Ficou feio para os brazucas. Mas, a animação ainda rende boas gargalhadas.

 

Título Original: Ice Age: Collision Course

Direção: Mike Thurmeier e Galen T. Chu

País: EUA

Gênero: Animação

Ano de Produção: 2016

Duração: 94 Min.

Classificação indicativa: Livre

Distribuição: Fox

Estreia: 07/07/2016

 

Conspiração e Poder

 

Conspiração e Poder

Por Sonia Rocha

 

Um bom filme para ser analisado em tempos atuais, que versa sobre o poder da política sobre os meios de comunicação e vice-versa. “Conspiração e Poder” de James Vanderbilt tem muito em comum com o ganhador do Oscar 2016 de melhor filme “Spotlight: Segredos Revelados” (2015) de Tom McCarthy. Em ambos o contexto é o jornalismo investigativo. Em Spotlight o alvo são os casos de pedofilia nas paróquias católicas de Boston, em “Conspiração e Poder” a vida militar e os favorecimentos de George W. Bush na época da Guerra do Vietnã, que mostravam o quanto o então candidato a reeleição à presidência dos EUA havia fugido de seus deveres cívicos.

 

O ano era 2004. Uma equipe de jornalistas da CBS News, estrelas do jornalismo americano, estava no meio de uma investigação jornalística sobre a vida de George W. Bush, dentre eles: Dan Rather (Robert Redford) do programa 60 Minutes e Mary Mapes (Cate Blanchett) premiada por sua reportagem sobre a tortura em Abu Ghraib, e que na época era exibida no mundo inteiro. Esse time conseguiu documentos e testemunhas que provavam o favorecimento de Bush se incorporar à guarda nacional americana para não ir à Guerra do Vietnã. Porém a retaliação que esta equipe encontrou levou a resultados avassaladores na carreira desses profissionais.

 

Baseado no livro da própria Mary Mapes, “Truth and duty the press, the president and the privilege of power” (2015) e roteirizado pelo próprio Vanderbilt, o filme é um compêndio de retóricas e versões. O ponto forte do longa-metragem são os discursos e suas conflagrações e o processo de criação de verdades. “Conspiração e Poder” põe em pauta os questionamentos sobre liberdade. Não somente a de expressão, mas a de pensamento. Ao contrário de “Spotlight” (no original) em que a justiça, de certa forma, é feita mesmo enfrentando a poderosa Igreja Católica, a equipe do 60 Minutes amarga uma dura derrota contra a família Bush e os poderes políticos instituídos, acabando com a carreira de Mary Mapes e abalando a de Dan Rather. (isso não é spoiler a história é um caso real acontecido em 2004 e seu desfecho é de conhecimento público).

 

A obra cinematográfica roteirizada por James Vanderbilt e, ousadamente, seu primeiro longa como diretor tem seu ponto forte na constituição da trama através dos diálogos. Com atores de peso como Cate Blanchett de “Carol” (2015) e Robert Redford de “Até o Fim” (2014) é um excelente caldo de reflexões para pensar liberdade política,  vida em sociedade e o próprio ‘modus operandis’ do imperialismo no mundo. Ficou pouco tempo em cartaz, talvez pelo tema intrincado e seco. Mas é um filme que, juntamente com “O Mensageiro” (2014), merece ser visto, revisto e posto na videoteca de casa para nos lembrarmos do que o ser humano é capaz na boa condução de retóricas e criação de verdades. Numa palavra? Ousado.

 

Título Original: Truth

Direção: James Vanderbilt

País: Austrália/EUA

Gênero: Biografia/Drama

Ano de Produção: 2015

Duração: 125 Min.

Classificação Indicativa: Não recomendado para menores de 12 anos

Distribuição: Mares Filmes

Estreia: 24/03/2016

 

 

 

Ex-Machina: Instinto Artificial

Ex-Machina: Instinto Artificial

Por Sonia Rocha

 

Não são poucos os filmes que versam sobre inteligência artificial. Em “2001: Uma Odisseia no espaço” (1968) a inteligência é demonstrada no levante da criatura contra o criador; em AI: Inteligência Artificial” (2001) o catalisador é o amor filial e o desejo de ser humano, no melhor estilo síndrome de Pinochio; em “Ela” (2013) o amor carnal e a necessidade de companhia são a coluna vertebral da história de amor entre um homem e um sistema operacional; em “Transcendence” (2014) a sede de conhecimento e a necessidade de seu acúmulo é o mote da história. Em “Ex-Machina: Instinto Artificial” a liberdade é o mote. Um conceito, uma vertente altamente subjetiva, assim como os meandros usados para consegui-la numa obra cujo roteiro é tudo.

 

Caleb (Domhnall Gleeson) é um nerd da computação que é selecionado por um programador ‘hors concours’ Nathan (Oscar Isaac) para fazer parte de uma experiência. Trata-se de avaliar o protótipo humanoide Ava (Alicia Vikander) e verificar seu nível de inteligência, sua autonomia de pensamentos, suas conexões de conhecimentos e criação deles a partir da interação com o ser humano. O experimento tem camadas múltiplas: a avaliação do androide, do pesquisador, dos resultados das interações de ambos, etc, muito bem trabalhados no longa-metragem. Enquanto isso o roteiro nos aponta o caminho com suas conflagrações teóricas sobre inteligência, conhecimento e conceitos, que não cansam porque fazem parte do jogo de xadrez que está sendo jogado.

 

O ponto forte de “Ex-machina” (no original) são as astúcias, as duplas jogadas, as várias maneiras de se ver uma mesma indagação, cena, take. As multifacetagens de inteligência que ajudam a metaforizar a própria história, dos véus que se retiram sobre as várias possibilidades do que seja inteligência. A construção do enredo inclui criação de identidade, autoconsciência, percepção do outro e atuação nos intervalos de ação do outro, demonstrando entendimento, discernimento, autonomia de escolha do caminho a seguir e ação no caminho escolhido. O filme é um jogo de manipulação vendo todos os lados, discutindo-se todos os lados com jogadas extraordinárias. Diferente de “Exterminador do Futuro: Gênesis” (2015) em que a humanização da máquina vem através do afeto e do uso de emoções mesquinhas do cotidiano como ciúmes e raiva; em “Ex-Machina: Instinto Artificial” ela vem através da criação de autonomia em todos os sentidos: de pensar, de articular, de concluir e de agir.

 

O longa-metragem concorreu ao Oscar 2016 nas categorias de roteiro original e efeitos visuais. Levou o de efeitos visuais, deixando “Star Wars: O Despertar da Força” para trás. Mas o poder de argumentação e a abordagem do roteiro criado por Alex Garland são geniais porque são procedentes, altamente subjetivos e caem como uma luva para o que está sendo analisado. Agora a pergunta que não quer calar é por que um filme desse calibre, indicado a dois Oscars não entrou no circuito? (está disponível em plataformas online e DVD). Vai saber....

 

“Ex-Machina” é uma boa pedida para quem gosta de ficção científica pé-no-chão. Pode parecer antagônico, mas não é. O longa é enxuto de fantasias espetaculosas e pirotecnias e tem como atrativo principal a história. Soberbo!

 

Título Original: Ex Machina

Direção: Alex Garland

País: Reino Unido

Gênero: Drama/ Mistério/Ficção-científica

Ano de Produção: 2015

Duração: 108 Minutos

Classificação Indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos

Distribuição: Universal Pictures

Estreia: lançamento direto em DVD (06/08/2015)

 

 

 

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Body

Por Sonia Rocha

 

“Body” é dirigido por uma das diretoras mais proeminentes da Polônia no momento: Malgarzata Szumowska. São dela os aclamados “In the Name of” (2013) e “33 Scenes from Life” (2008). Dessa vez a cineasta aborda o corpo e suas necessidades e distúrbios a partir da alma, das ações, dos afetos, das dores e das perdas. O longa tem um viés espiritualista com direito à citação do médium brasileiro Divaldo Franco e do Brasil como um celeiro de talentos nessa seara.

 

Anna (Maja Ostaszewska) é uma psicóloga e médium que trabalha num centro de tratamento para meninas anoréxicas. Sr. Attorney (Janusz Gajos) é um legista frio, cientificista, que perdeu a mulher tragicamente. Sua filha Olga (Justyna Suwala) somatizou a morte da mãe e desde então apresenta quadro de anorexia, e se trata com  a Drª Anna. A abordagem sobre o corpo é imbricada com o cotidiano da história, a hora das refeições, o sexo furtivo dos vizinhos, os exames de Corpo de Delito do Sr. Attorney e seu ceticismo, a solidão de Anna e a necessidade de expressão do corpo como um veículo, como um algo a ser ouvido e ser cuidado, como um repositório de alguma coisa desconhecida, um algo mais que habita a embalagem. O alinhavo com a doutrina espírita pega esse gancho.

 

O roteiro e a direção são de Malgorzata e o filme ganhou o urso de prata de melhor diretor no Festival de Berlim 2015 e o prêmio maior do festival de filmes da Polônia. Os atores Janusz Gajos de “A Igualdade é Branca” (1994) e Maja Ostaszewska de “O pianista” (2002) são experientes. A estreante é Justyna Suwala que segurou muito bem seu personagem.

 

O grande mote do filme, aqui em terra brasilis é ver Divaldo Franco citado como um grande mentor e o Brasil como um grande exemplo da doutrina espírita. “Body” tem um cunho evangelizador e espiritualista. É uma espécie de versão polonesa da doutrina espírita. Parece que deu certo, chegou até aqui. Corajosa a moça!

 

Título Original: Cialo

Direção: Malgorzata Szumowska

País: polônia

Gênero: Comédia/Drama

Ano de produção: 2015

Duração: 90 Min.

Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos

Distribuição: Supo Mungan Films

Estreia: 21/01/2016

Labirinto de Mentiras

 

Labirinto de Mentiras

Por Sonia Rocha

 

O cinema alemão tem produzido pérolas políticas bastante contundentes. Vide “Diplomacia” (2014)  e “Phoenix” (2015).  Se em “Diplomacia” se tem uma conversação para se dissuadir o interventor alemão de Paris, na segunda Guerra Mundial, de explodir a cidade, numa desconstrução da retórica política alemã.  Se em “Phoenix” temos uma judia alemã que procura suas raízes, família, marido e justiça depois das atrocidades sofridas em campos de concentração. Em “Labirinto de Mentiras” temos uma radiografia dos caminhos usados para punir os próprios pecados, cortar na própria carne, na jornada pela condenação dos nazistas atuantes na Guerra.

 

O ano é 1958, treze anos depois de terminada a segunda grande guerra. A Alemanha se ergue à duras penas. Até que um jornalista Thomas Gnielka (André Szymanski) reconhece um dos comandantes de Auschwitz na função de professor de uma escola de crianças e jovens. Vai até o ministério público e faz a denúncia. O defensor Johann Radman (Alexander Fehling), inicia silenciosamente uma investigação sob a égide das perguntas: Onde estão os nazistas? Quem (dentre os alemães) ouviu falar em campos de concentração? Isso para poder encontrar, prender e julgar Josef Mengele e Adolf Eichmann. O longa-metragem do italiano Giulio Ricarelli nos leva pela jornada dessas investigações que culminaram no julgamento de Frankfurt em 1963, também chamado julgamento de Auschwitz.

 

“Labirinto de Mentiras” tem um excelente argumento e morre na praia quando emperra no roteiro e não sai do lugar, não se desenvolve, nem se aprofunda. Apesar de ter bons atores: Alexander Fehling de “Bastardos inglórios” (2009) e Friedrike Becht de “O Leitor” (2008). O diretor Giulio Ricarelli e as roteiristas Elisabeth Bartel e Amelie Syberberg são marinheiros de primeira viagem na seara de longa-metragens (justamente a alma de um filme). Os experientes em suas funções são Martin Langer e Roman Osin da fotografia e Sebastian Pile e Nick Reiser da trilha sonora, e que proporcionaram um ‘Q’ de investimento no emocional e na percepção em detrimento do conteúdo. A pergunta que não quer calar é por que um diretor italiano, com tantos diretores alemães competentes para versar sobre assuntos políticos internos. Há que se entender que, com um tema tão delicado alguém que não tenha a nacionalidade não o queira aprofundar, não o saiba e, consequentemente não o deva.

 

Apesar de tudo isso, o longa ganhou melhor filme no Festival de Athenas, Melhor ator para Alexander Fehling no Festival da Bavaria e três prêmios do Les Arc European Film. No  ano em que cai em domínio público o livro “Mein Kampf” de Adolph Hittler, que sai da lista de livros proibidos/censurados e passa a ser publicado por quem quiser fazê-lo, vale a pena investir na contra-ideologia. Mas competência é fundamental. Nem de longe “Labirinto de Mentiras” chega aos pés de “Munique” (2005) de Steven Spielberg.

 

Título original: Im Labyrinth des Schwegeins

Direção: Giulio Ricarelli

País: Alemanha

Gênero: Drama

Ano de produção: 2014

Duração: 124 Min.

Classificação Indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos

Distribuição: Mares Filmes

Estreia: 17/12/2015

 

 

Capital Humano

Capital Humano

Por Sonia Rocha

 

“Capital Humano” de Paolo Virzì é um filme italiano que recebeu 42 premiações no mundo todo e foi o indicado da Itália ao Oscar 2015. Durante as etapas de seleção ficou pelo meio do caminho, mas agora está em cartaz em circuito nacional. Baseado no livro homônimo de Stephen Amidon foi roteirizado por Francesco Bruni (Scialla/2011), Francesco Piccolo (Habemus Papam/2011 e Mia Madre/2015) e por seu diretor. E faz um passeio pelo caminho das respostas às perguntas: Qual a serventia do outro? Em que você é útil? Quanto valemos?

 

O longa metragem tem uma estrutura interessante. Nos lembra “Amores Perros” de Iñárritu, que viaja no tempo (ida e volta), mostrando os pontos  de vista diferentes, divididos em capítulos. Primeiro apresenta o ponto de convergência (não é o argumento) para onde todas as histórias vão e se reduzem. Depois o ponto de vista da vida de três personagens: Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), o de Carla Benaschi (Valéria Bruni Tedeschi) e o de Serena Ossola (Matilde Gioli) e direciona todos para o capítulo final – o capital humano – em que o atropelamento de um ciclista (Fabrizio Lupi) junta todas as histórias e manda a pá de cal no argumento: o valor das relações envolvidas nos capítulos anteriores. Paolo Virzì foi magistral quando comparou os valores subjetivos e socialmente contextuais ao valor designado por um seguro de vida e suas variantes de cálculo.

 

O roteiro consiste em: Serena (Matilde Gioli) se relaciona com Massimilano (Guglielmo Pinelli), filho dos Bernaschi, Carla e Gionanni (Fabrizio Gifuni), uma família importante, poderosa e administradora de fundos de investimentos. Dino é dono de uma imobiliária, comércio mediano, italianão grosseiro, que resolve aproveitar essa proximidade da filha com a família para fazer uns investimentos dos quais não entende absolutamente nada, e penhora tudo o que tem para adquirir umas cotas de uma determinada ação. Carla é uma ex-atriz de teatro que largou a carreira profissional para se casar com o mega investidor Giovanni, e decide salvar o teatro da cidade com recursos do marido, num momento econômico não tão promissor. O mote é o que essas relações esperam umas das outras, para que servem entre si e o quanto se deixa de ser o que se é para cumprir o ritual de compra e venda da alma por conveniências. No meio de tudo isso, um ciclista é atropelado e alguém dessas relações o fez. Quem? E o que isso pode significar de perdas, problemas – o humano não interessa – quais serão as consequências para essas relações. E por fim, quais as variantes da vida são contabilizadas e como o são para se chegar ao valor de uma apólice de seguro. Que argumento espetacular!

 

Paolo Virzì é um diretor que tem no currículo 54 premiações entre direção e roteiro. Italiano da Toscana, Paolo já dirigiu curtas, documentários e ficção. Com “Capital Humano” ganhou melhor direção e roteiro no BIFEST (Bari International Film Festival); melhor roteiro no FICE (Federazione Italiana Cinema D’Essai); o Pégasus de Ouro do Flaiano International Prizes; melhor filme no Lauderdale International Film Festival; o Globo de Ouro italiano de melhor filme; o prêmio do Sindicato dos Críticos Italianos e o Davi de melhor filme (David Di Donatello Awards), dentre outros. Para tanto juntou um time respeitável: Fabrizio Bentivoglio (No Limite da Emoções/2003); Valéria Bruni Tedeschi (Muniche/2005); Fabrizio Gifuni (Hannibal/2001) e Matilde Gioli, a caçulinha, que ganhou o prêmio de melhor atriz no BIFEST e do Sindicato Nacional do Críticos. Todos foram agraciados com lauréis por suas atuações em “Capital Humano”.

 

A curiosidade do filme é que ele teve dois diretores de fotografia, um para as sequências de inverno (Jérôme Almeras  de “Beijei Uma Garota” /2015) e outro para as sequências de verão (Simon Beaufils – operador de câmera de “Os Intocáveis” /2011). A junção desse duplo olhar e sua metáfora  é algo a considerar sobre o final da história. A trilha sonora assinada por Carlo Virzì tem como músicas inseridas “Rehab” de Amy Winehouse e “Christmas Waltz” de Frank Sinatra outra dicotomia que se encaixou muito bem. Apesar da magistralidade da ideia, a junção de tudo isso é difícil pelas subjetividades envolvidas, o que, por vezes, parece fragmentar demais o roteiro. Talvez por isso não tenha chegado às finais da corrida ao prêmio maior do cinema mundial. Mas é um filme espetacular e merece ser conferido.

 

“Capital Humano” lembra ainda “O Capital” (2012) de Costa-Gavras em que tudo se resume ao vil metal, têm preço e não passam de coisas (família, amizades, amor, respeito etc...). O longa é uma belíssima dissertação sobre os elos que, realmente, nos une como seres sociais, mas, lá no fundo, Paolo Virzì ainda aposta que possa existir algo verdadeiro.

 

Título Original: Il Capitale Umano

Direção: Paolo Virzì

País: Itália

Gênero: Drama

Ano de Produção: 2013

Duração: 111 Min.

Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos.

Distribuição: Imovison

Estreia: 12/11/2015

Goosebumps: Monstros e Arrepios

Goosebumps: Monstros e Arrepios

Por Sonia Rocha

 

Goosebumps é uma série de livros juvenis do gênero ficção/terror de Robert Laurence Stine, publicados entre 1992   a 1997, e que tiveram tiragens respeitáveis no mundo todo. Alguns viraram filmes, outras séries de TV. Para se ter uma ideia do alcance e da fama de Goosebumps, era o equivalente ao Harry Potter de hoje, só que na década de 90. Rob Letterman, o diretor, juntamente com Scott Alexander e Larry Karaszewiski, os que escreveram a história para o filme, e o roteirista Darren Lemke, basearam-se na série literária para criarem “Goosebumps: Monstros e Arrepios”, numa linha de criação literária, enfatizando o poder da imaginação e da literatura na vida das pessoas e mais, buscando refletir sobre a relatividade da criação. Se o escritor é quem cria os personagens ou se são os personagens que o fazem escritor. Numa pegada inteligente com cara de sessão da tarde.

 

R. L Stine (Jack Black), que sempre teve problemas de sociabilidade, desde a infância, escrevia sua histórias monstruosas e mudava-se constantemente de residência, desenvolvendo assim, misantropia. Um belo dia chega a vizinhança, Zach (Dylan Minnette) e de cara se encanta com sua filha Hannah (Odeya Rush). A casa guarda segredos, R. L Stine guarda segredos, Hannah é um segredo. A história vai se desenrolando com livros que, quando abertos, libertam seus personagens pavorosos para a vida real. Que nada mais são do que os medos e as vinganças de seu escritor: o abominável homem das neves, os anões de jardim, o Slappy – o boneco de ventríloquo – a bolha assassina, o menino invisível, etc... E se os livros fossem destruídos os personagens não poderiam voltar a ser histórias e passariam a fazer parte da vida real ficando presos à nossa realidade.

 

O mote da história de Scott Alexander e Larry Karaszewiski, ganhadores do Globo de Ouro por “ O Povo Contra Larry Flynt” (1996) e o roteiro de Darren Lemke de “Shrek Para sempre” (2010) pode parecer bobo mas, é um excelente catalisador para reflexão sobre o poder da literatura sobre quem escreve e sobre quem lê. O filme também ovaciona o poder da imaginação e faz pensar sobre a relatividade entre realidade e fantasia. E ainda questiona o conceito de criação. Quem  cria quem? O escritor aos personagens quando os inventa dentro de um contexto? Ou os personagens que içam seu criador à condição de escritor e ganham vida exponencializada à medida que têm leitores?  Belíssima reflexão feita na fala de Slappy.

 

Alguns destaques são importantes. Rob Lettterman (diretor) é mais voltado para o nicho da animação e das aventuras infanto-juvenis como “ O Espanta Tubarões” (2004). “Monstros x Alienígenas” (2009) e “Viagens de Gulliver” (2010), o que conferiu uma pegada ingênua à história, que tem tantos aspectos subjetivos imbricados como a misantropia, o ostracismo e o Bullyng – os monstros são criações resultantes de Bullyng que R. L Stine sofria. Jack Black, indicado a dois Globos de Ouro por “ A Escola do Rock” (2003) e “Bernie: Quase Um anjo” (2011) e ainda, conhecido pelos popularzões “O amor é Cego” (2001) com Gwyneth Paltrow e “A Inveja Mata” (2004), atuou como J.L. Stine e ainda fez as vozes de Slappy – o boneco de ventríloquo – e a do Menino invisível. A trilha sonora e de Danny Elfman de “Noiva cadáver” e a fotografia é da fera Javier Aguirresarobe, que tem trabalhos multifacetados que vão desde os filmes de Woody Allen ate´”Poltergeist: O Fenômeno” (2015).

 

Em suma, é um filme interessante, bem produzido, com uma história que possui várias camadas de reflexão com cara de sessão da tarde e com jeito de pouca importância, mas que em seu bojo é muito mais do que um filme para crianças. Dublado e na versão 3D- que não faz a menor diferença, é só um atrativo comercial - “Goosebumps: Monstros e Arrepios” vale mais do que pesa.

 

Título Original: Goosebumps

Direção: Rob Letterman

País: EUA

Gênero: Aventura/ Comédia/Terror

Ano de Produção: 2015

Duração: 103 min.

Classificação: Não recomendado para menores de 10 anos.

Distribuição: Sony Pictures

Estreia: 22/10/2015

 

O clube

O Clube

Por Sonia Rocha

 

O chileno abençoado com coragem, e uma competência admirável para contar histórias na vertente imagética, está de volta. Depois de “Pos Mortem” (2010) e mais conhecido por “No” (2012), Pablo Larraín mexe no vespeiro de mais um assunto polêmico: a conduta desviante dos padres da igreja católica e seu destino após julgados e condenados por seus pares.

 

Os padres afastados de suas funções por condutas desviantes (molestar menores, trafico de crianças e afins) são enviados para casas de penitência, onde são despojados de seus trajes, vivendo sob vigilância e sustentados pela igreja.  No caso do clube os padres se dedicavam a corrida de cachorros. Porém uma nova ordem da igreja nomeou um diretor espiritual para fiscalizar essas casas com vistas a fechá-las. Coincidentemente ele chega após uma tragédia. Um dos padres recém chegado à casa traz consigo um perseguidor, Sandokan (Roberto Farias). Um homem perturbado que fora seu coroinha e a quem havia molestado. Temendo represálias da cidade os padres sugerem que o padre perseguido mate Sandokan e lhe dão uma arma, ele sai e comete suicídio. Todos calam sobre o ocorrido, mas Sandokan fica na cidade trabalhando. E não demora muito para que a história chegue aos ouvidos do diretor/corregedor.

 

E nesse contexto temos uma radiografia do humano reprimido por debaixo de toda a suposta santidade. O clube de corrida de cães é válvula de escape e metáfora dos instintos calados. O desfile de vilania e crueldade entremeado a uma trilha sonora espetacular de Carlos Cabezas, e a fotografia  estupenda de Sergio Armstrong de “A Criada” (2009) recebeu o prêmio do Festival de Austin. Os responsáveis pela trama intrincada e muito bem roteirizada foram Guilhermo Caldeirón de “Violeta foi para o céu” (2011) e Daniel Villalobos, marinheiro de primeira viagem. O filme recebeu o prêmio do júri do Festival de Berlim 2015 (Urso de Prata).

 

Pablo Larraín com “O Clube” em momento algum faz juízo de valor, apenas expõe o humano, as versões de cada um em relação à sua conduta, inclusive a versão da vítima (Sandokan),extraordinariamente. E ousa fazer uma sugestão de penitência soberba. E só por ela e pelo silêncio e justiça impostos vale o ingresso. Que contador de histórias!... Magnífico!

 

Título original: El Club

Direção: Pablo Larraín

País: Chile

Gênero: Drama

Ano de produção: 2015

Duração: 98 Minutos

Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos

Distribuição: Imovision

Estréia: 01/10/2015

Sobre amigos, amor e vinho

Nem todo filme francês tem ser de arte ou filme cabeça. “Sobre Amigos, Amores & Vinho” é um desses casos dissonantes que promete uma divagação profunda e nos oferece divertimento e alguma reflexão regada a muitas gargalhas. No melhor estilo sessão da tarde chuta o balde da disciplina e do controle da vida, numa divertida história de um grupo de amigos que se conheceram na faculdade e cultivam essa amizade há 30 anos.

 

O roteiro é simples: Antoine Chevalier (Lambert Wilson), cinquenta anos, casado, ávido praticante de atividade física – corrida de rua – é alguém que cuida da saúde, tem disciplina e vive uma vida feliz e controlada. Um dia, no meio de uma corrida sofre uma parada cardíaca. E partir daí começa a questionar toda a sua disciplina e privações em prol de uma boa saúde. E esses questionamentos se estendem aos inconvenientes que se atura nas relações sociais para sermos aceitos, queridos e demostrarmos boa educação e mantermos os relacionamentos, dentre eles: amizades e casamento. Para celebrar resolve fazer um churrasco com os amigos, em que sai completamente da dieta, come batatas fritas, bebe, e comete outras transgressões disciplinares nada típicos de seu comportamento cotidiano, e resolve que também não vai suportar mais nada de ninguém. Uma verdadeira catarse.

 

A história é de Hector Cabello Reyes de “Uma Juíza Sem Juízo” (2013) juntamente com o diretor Eric Lavaine, oriundo de séries de TV. A fotografia belíssima é de François Hernandez de “Cyrano de Bergerac” (1990) e conta com o galã Lambert Wilson, indicado a seis Césares.

 

No mais, é um filme leve, engraçado e excelente catalisador para se repensar a necessidade que temos de controle da vida e ao que nos submetemos para mantermos nossas relações sociais.

 

Título Original: Barbecue

Direção: Eric Lavaine

Pais: França

Gênero: Comédia

Ano de Produção: 2015

Duração: 98 Min

Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos

Distribuição: Tucuman Filmes

Estreia: 13/08/2015

Phoenix

 

Com o título sugerindo uma viagem pelo mito da Fênix, o pássaro renascido das cinzas, o diretor Christian Petzold e o roteirista.Harun Farocki (1944-2014) nos contam a história de Nelly Lens (Nina Hoss), adaptada do livro "Le Retour des Cendres" de Hubert Monteilhet. E que fôra transformado em filme em 1965 pelo diretor J. Lee Thompson com o ´titulo de "De Volta das Cinzas".

 

Nelly Lens é casada com Johnny Lens (Ronald Zehrfeld) e na segunda guerra mundial foi presa e enviada para um campo de concentração. Devido as atrocidades sofridas perdeu as feições . Sobreviveu a barbárie efoi resgatada por uma amiga, Lene Winter (Nina Kunzendorf) em 1945, logo após o final da guerra. Reconstituiu cirurgicamente a face, embora não tenha voltado a ter os mesmos traços. Em seguida foi a procura de seu marido. Descoberto o seu paradeiro, a história nos oferece muito mais fatos  a serem descobertos por Nelly e pelos espectadores.

 

Baseado numa história real, "Phoenix" nos mostra que pode existir dores iguais ou maiores àquelas sofridas num campo de concentração. Petzold nos leva numa jornada de perscrutação do outro. Abre as cortinas da alma do outro, a quem nós julgamos conhecer, aqueles a quem amamos, e que por conta disso, os inventamos/fabricamos segundo nossos anseios e fechamos os olhos para as obviedades. O filme é uma jornada pela dor do que não se quer ver.

 

"Phoenix" é uma produção alemã e polonesa que foi exibido no Festival de Sundance e levou os prêmios de melhor atriz coadjuvante para Nina Kunzendorf no German Film Awards, e melhor atriz para Nina Hoss no Festival de Seatle. Para Christian Petzold menção especial no festival de Hong King, prêmio especial do juri no festival Lisbon & storil e o FIPRESCI no San Sebastian Film Festival.

 

Com uma trilha sonora assinada por Stefan Will (pouco conhecido de nós por realizar trabalhos nas TV locais) ela é a mola mestra que com magistralidadepõe todos os pontos nos 'is'. A fotografia também é importante no devanear por essa jornada, que vai do lúgubre ao claro absoluto, do cinza ao encarnado retratando os estados emocionais de Nelly e é assinada por Hans Fromm, premiado com o Camerimage por "The Green Prince" (2014).

 

O longa de Christian Petzold é um retrato da alma humana e de suas possibilidades hediondas, mas é levado numa leveza, ilusões e manutençaõ de esperança que conquista, e faz uma radiografia da essencia do bem e do mal numa narrativa sofrida que se ergue no final num 'timbre' espetacular. Surpreendente e Forte!

 

Título Original: Phoenix

Direção: Christian Petzold

Pais: Alemanha/Polônia

Gênero: Drama

Ano de produção: 2014

Duração: 98 Min.

Classificação: Não recomendado para menores de 10 anos.

Distribuição: Imovison

Estreia: 09/07/2015

 

O Ciclo da Vida

O Ciclo da Vida

Por Sonia Rocha

 

“Mas o que é isso que fiz da minha vida? Há casos em que a velhice dá, não uma eterna juventude, mas ao contrário, uma soberana liberdade. Uma necessidade pura em que se desfruta de um momento de graça entre a vida e a morte, em que todas as peças da máquina se combinam para enviar ao porvir um traço através das eras....” (Gilles Deleuze & Félix Guatarri)

 

A longevidade tem sido um tema recorrente nos filmes da leva de 2014/2015. Tivemos o “O Exótico Hotel Marigold” 1 e 2,  de John Madden  “A Incrível História de Adaline” de Lee Toland Krieger, e agora “O Ciclo da Vida” de Zhang Yang. Ao contrário dos “...Hotel Marigold” em que os idosos tinham poder aquisitivo, e que sob a égide de suas vontades resolveram se ‘hospedar’ numa casa/hotel escolhido e que gozavam de liberdade de ir e vir, em “O Ciclo da Vida o contexto é o oposto. A casa de repouso é destinada  a pessoas sem recursos, que em muitos casos (quase todos) foram postos por seus familiares e são mantidos lá por eles, e que não gozam do privilégio da decisão por suas vidas e muito menos da liberdade de ir e vir.

 

Se em “...Hotel Marigold” se versa sobre o aspecto límpido, brilhante e positivo de se estar vivo, mesmo na  velhice, em “O Ciclo da Vida” as mazelas da decrepitude são expostas num organismo sob o qual não se tem mais controle, em que a dor fora tamanha que levou a sanidade, em que um corpo, aparentemente, são, possivelmente é mais carcomido.

 

A história versa sobre uma apresentação teatral advinda do teatro de sombras (cultura chinesa) em que os velhinhos para exercitarem suas potencialidades e se sentirem fazendo parte de alguma coisa importante, decidem se inscrever e participar com uma apresentação. A questão é que precisam da autorização de seus familiares, e os tais  preocupados com o que possa acontecer  não autorizam. Então, os velhinhos fogem. E Zhang Yang nos apresenta uma fuga maravilhosa de velhinhos de um asilo, no melhor estilo traquinagem de criança,  num road-movie emocionante. “O Ciclo da Vida” coloca o dedo na ferida da decadência de um corpo que não  corresponde mais aos anseios da alma, mas reserva uma clareira de usufruto para o que resta. E nessa história não faltaram lágrimas, dor, reflexões, vida e muita poesia.

 

Zhang Yang é um diretor chinês, conhecido pelo premiado “Banhos” (1999) que dessa vez se superou regendo uma produção, cuja média de idade dos atores é de 70 anos. Roteirizado pelo próprio Yang e Xin Huo de “Kung-Fusão” (2004) e Zhang Chong; com história original de Fendou Liu de “Chapéu verde” (2004) – que arrebatou o prêmio FIPRESCI do Thessalonik Film Festival e melhor nova narrativa cinematográfica do festival  Tribeca -  “O Ciclo da vida” mostra o poder de um objetivo na vida de um ser humano. E nesse interstício, monta um show de alegria, de esperança e de vida, e dá um banho narrativo e imagético sobre como encarar a realidade. Traça um ciclo que acaba do jeito que começa,  desmistifica as importâncias construídas com patrimônio e poder, e mostra o ser humano cru.

 

Tecnicamente o filme também é um primor na música de San Bao, oriundo de filmes de TV e mini-series; e na fotografia espetacular do marinheiro de primeira viagem Yang Tao. “O Ciclo da Vida” é um filme para ser bebido em doses pequenas, lentamente e degustado com todos os sentidos até o final. Magistral!

 

Título Original: Fei Yue Lao Ren Yuan

Direção: Zhang Yang

País: China

Gênero: Drama

Ano de produção:2012

Duração: 105 Min

Classificação: Não recomendado para menores de 10 anos

Distribuição: Esfera Cultural

Estreia: 16/07/2015.

 

Minions

Inspirados nos Oompas Lompas da "Fantástica Fábrica de Chocolates" (1971) de Mel Stuart, os Minions ganharam um filme só deles. Depois de desfilarem suas desastradas brincadeiras na franquia "Meu Malvado Favorito" com direito a  contarem sua origem, passearem pela história da humanidade, e até  a deposição da Rainha da Inglaterra de seu trono, os amarelinhos finalmente encontram "Gru", seu amo do mal das estórias que já conhecemos.

 

Os Minions são criaturinhas do mal "nonsense" , aquele ingênuo, de infância, em que a graça da ação é muito maior do que seu juizo de valor em si. Seu prazer é servir a um grande vilão, ou desservir, como queiram. Falam  um idioma que é uma mistura de inglês, francês, espanhol, italiano e português numa babel proposital que visa a não criação de identidade, e "maqueteiramente" podem ser qualquer um de nós de 0 a 100 anos.

 

Dirigido por Pierre Coffin - indicado ao Oscar por "Meu Malvado Favorito 2" (2013) e Kyle Balda de "Monstros S.A." (2001) e roteirizado por Brian Lynch de "O gato de botas" (2011),o longa dos amarelinhos no estilo "Mr. Magoo" faz uma viagem pela história da humanidade servindo aos vilões mais cruéis, do Tiranossauro Rex a Napoleão. Mas a história se detém no momento em que retirados  numa caverna gélida, e mergulhados numa rotina horrenda três heróis (Kevin, Stuart e Bob) resolvem  ganhar mundo para encontrar um vilão que valha a pena servir. E vão parar numa feira de vilões na Flórida e lá encontram Scarlet Overkill (Sandra Bullock/Adriana Steves) e seu marido Herb Overkill (Jon Hamm/Vladimir Brichta) que desejam roubar a coroa da rainha Elizabeth. Rumam, então, para Londres e tomam o trono de assalto e aí a aventura  se desenrola cheia de tiradas/piadas e situações em que somente os amarelinhos sem noção são capazes de criar.

 

O longa metragem é cheio de referências históricas, filosóficas e culturais, como o mito da caverna e os Beatles, por exemplo. A trilha sonora é reverenciável, vai de Aerosmith a The Doors, passando por Jimi Hendrix. A versão 3D não faz grande diferença e é só um atrativo a mais para a garotada, a animação é  dublada  e mais direcionada aos "picorruxos" menores, com descanso de atenção e ações pontuais e infantis.

 

"Minions" é mais um palco de estrelato para as vozes que os dublam - Sandra Bullock, Ellyson Janney, Michael Keaton, Steve Carell  na versão original -  e Adriana Steves e Vladimir Brichta, na versão brasileira, do que um produto sine qua non. É uma animação no lugar comum e que cumpre bem a sua função - divertir.

 

Título Original: The Minions

Diretores: Pierre Coffin e Kyle Balda

Produtor: David Rosembaun

País: EUA

Gênero: Animação, familia

Ano de Produção: 2015

Duração: 91 Min.

Classificação: Livre

Distribuição:Universal Pictures

Estreia: 25/07/2015

 

A Lei da Água - Novo Código Florestal

"A lei da Água - Novo Código Florestal" é um documentário que traz uma abordagem ambientalista, ancorada em fundamentos científicos que atesta a nocividade da  nova legislação florestal brasileira para  os ecossistemas da amazonia, especialmente para os recursos hídricos.

 

Produzido por Fernando Meirelles de "Cidade de Deus" (2002) e dirigido por André D'Elia de "Belo monte: Anúncio de uma Guerra" (2012), o longa faz uma costura com argumentos científicos, jurídicos, ambientalistas e com  depoimentos de pequenos produtores rurais, parlamentares brasileiros, não por acaso grandes proprietários rurais, Blairo Maggi  (PR/MT) e Luiz Antonio Heinze (PP/RS). Também faz uma comparação entre o código florestal anterior e o novo pontuando as modificações danosas.

 

Encomendado e financiado por ONGs ambientalistas, o documentário é uma aula de ecologia nos aspectos de sustentabilidade, causas e consequências da política do agronegócio (pecuária e agricultura de larga escala), e aponta o desmatamento das matas ciliares (às bordas dos rios) como o grande catalisador do apocalipse que nos aguarda, a nós brasileiros, e ao planeta como um todo, e destaca ainda o nível de nossas responsabilidades como donos de uma das maiores bacias hidrográficas do mundo.

 

Instrumento político, o documentário tem fundamentos suficientes para pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) a aceitar ações de inconstitucionalidade relativo ao novo código florestal. A questão que não quer calar é a falta de interesse do público pela questão ambiental. Há duas semanas em cartaz, o longa não saiu da casa das centenas de espectadores.

 

O longa é muito bem produzido, bem dirigido, tem argumentos que procedem e são muito bem sistematizados, com um didatismo invejável. Nos lembra o documentário`"Marcas da Água" mas muito mais incisivo e contundente e dentro do nosso quintal.

 

Talvez tenha faltado aquela campanha....VÁ AO CINEMA E SALVE O PLANETA!!! Já que por aqui, quem fala mais alto não são as evidências e necessidades mas o alarde do Marketing. Vale a pena ser conferido e com urgência, primeiro porque vai sair de cartaz, segundo porque o meio ambiente não espera.

 

Titulo original: A lei da Água - Novo Código Florestal

Diretor: André D'Elia

Produtor: Fernando Meirelles

País:Brasil

Gênero: Documentário

Ano de produção:2014

Duração: 78 Min.

Classificação: Livre

Distribuidor: O2 play

estreia: 14/05/2015

 

O Exótico Hotel Marigold 2

A continuação de "O Exótico Hotel Marilgold" é uma expansão dos sonhos de Sonny Kapoor (Dev Patel). E uma oportunidade para a reflexão sobre a vida em suas diferentes fases, e muito principalmente, a desmistificação do silenciamento dela na terceira idade. Ambientado na Índia, o filme traz a diversidade de aspectos culturais e a integração entre seres humanos como tal, nesse caldo heterogêneo.

 

"O Exótico Hotel Marigold" é um lar livre para idosos independentes gerenciado por Muriel Donnely (Maggie Smith) de "A primavera de uma Solteirona! (1969) e "Califórnia Suite" (1978) - pelos quais ganhou o Oscar - tendo como proprietário Sonny (Dev Patel) de "Chappie" (2015) e "Quem quer ser um Milionário?" (2008) - pelo qual foi inidcado ao BAFTA . Esse misto de hotel e lar de idosos surgiu da empreitada dos hóspedes fixos: Evelyn (Judy Dench), Douglas (Bill Nighy), Madge (Celia Imrie) , Norman (Ronald Pickup) e a própria Muriel, que levaram consigo suas histórias não resolvidas e buscavam reinventar-se numa nova fase da vida, cujas características são maiores limitações físicas, mas infinitas outras possibilidades. E é sobre essas possibilidaes que "O Exótico Hotel Marigold 2" se dedica em sua história.

 

O roteiro do inglês Ol Parker, premiado em festivais por "Agora e para Sempre" (2012), faz analogias entre as fases da vida. As escolhas e as formas de escolhas , os equívocos e a pressa da juventude, com a sabedoria e a experiência dos anciãos. Numa linha de argumento em que a vida foi feita para se experimentar e lições são para serem aprendidas. O arcabouço é o da construção/criação do ser humano por si mesmo através do aprendizado da/na vida, e mostra a interseção entre essas fases: a procura da mesma coisa, o  amor. Por mais que  sejamos experientes , tateamos no escuro sem saber o que fazer, no que vai dar e quais atitudes tomar. A vida é um ensaio e erro. São as lições preciosas que nos lega a película.

 

John Madden de "Shakespeare Apaixonado" (1998) - filme que ganhou sete oscares - dirigiu os dois filmes da franquia que tem como trunfo, para além do roteiro, a trilha sonora assinada por Thomas Newman, compositor indicado a doze Oscares, dentre eles, por: "Skyfall" (2012), "Procurando Nemo" (2003) e "Beleza Americana" (1999), que embala a  emoção dando vida ao roteiro subjetivo. As locações foram na Ìndia (Jaipur), Espanha e Londres, e ainda contou com a participação de Richard Gere ( Guy Chambers) de "Pretty Woman" (1990) dando un fôlego a mais a terceira idade.

 

A essência de "O Exótico Hotel Marigold 2" é a reflexão sobre a vida de um forma alegre, divertida com uma argumentação que fala sobre o final da existência como algo poético e ao mesmo tempo realista. O cerne da questão é jamais sermos vítimas, pois somos autores de nossa história. Belíssimo!

 

Título Original: The Second Best Exotic Marigold Hotel

Direção: John Madden

País: Reino Unido/ USA

Gênero: Comédia/Drama

Ano de Produção: 2015

Duração: 122 Min

Classificação: Livre

Distribuição: Fox Filmes

Data de estreia: 07/05/2015

 

 

A Viagem de Yoani

O documentário em questão é o registro da viagem ao Brasil da jornalista e blogueira cubana Yoani Sanchez, que denunciava ao mundo a falta de liberdade de expressão e do direito de ir e vir em seu país.  Em suma, de exercicio de direitos democráticos. Desta forma Yoani colocava em discussão o conceito de liberdade no regime socialista mais aclamado pelos movimentos de militância política no Brasil e no mundo. Criticada por  julgare-na financiada pela CIA _ Agencia Americana de Inteligência -  Yoani Sanches viajou o mundo falando sobre a vida em cuba.

 

Os diretores são dois documentaristas que trabalharam juntos no Doc "A Cidade Cinza" (2013) que versa sobre a nova onda do graphite surgida nos muros de São Paulo. São eles: Raphael Bottino e Peppe Siffredi. O roteiro, feito por Peppe, pontua a democracia como veio condutor e como força motriz. Essa, a que movia a blogueira Yoani, e aquela a que dá voz, na película, a todos os lados da querela. O de Yoani, o dos miltantes que a rechaçaram e dos que a apoiavam. As pontuações de imagens são feitas na chegada ao Brasil, no primeiro hotel em que deu sua primeira entrevista, na coletiva concedida ao jornal paulista O Estadão, na conversa tida no congresso nacional brasileiro com parlamentares e num encontro com militantes. O documentário lembra os caminhos de denúncia do sistema vigente de "CitizenFour" (que estreia em breve no Brasil), salvaguardadas as devidas peculiaridades.

 

O cerne da questão do caso Yoani eram os questionamentos sobre quem a financiava, as denúncias de que era uma agente da CIA com missão de desestabilização do último governo socilaista fechado do mundo. Outros diziam, ainda, que ela era voz dos insatisfeitos daquele regime político lutando por liberdade de expressão,  direito de ir e vir e acesso a informação num mundo cada vez mais conectado.

 

Dentro desse contexto, a menina dos olhos de "A Viagem de Yoani" é a edição. Feita por Daniel Grinspum - editor de "Som e Fúria" (2009) de Fernando Meirelles,  diretor assistente de "Marighella" (2012) e que fez parte do departamento de  edição de "Praia do Futuro" de Karim Ainouz - a edição do Doc é um primor em dar ouvidos a todas vozes - concordantes, contrárias ou dissonantes - fazendo conexões entre as três prinicpais linhas lógicas presentes nos protestos. Costurou as cenas  de filmagens caseiras feitas por Yoani à época da montagem de seu computador, de sua rotina familiar, de seu início do exercício de blogueira, a mensagem enviada ao senador Eduardo Suplicy, que a ciceroneou nesse embate, com tudo o que estava acontecendo nas viagens.

 

Porém, independente da isenção tantada à toda prova, a excessiva pontuação de algumas  frases e a música dos créditos finais de  Marina de La Riva "Que Sabes tu?" deu o tom da película.

 

Como registro documental , jornalístico  e de observação de retórica é altamente recomendável.

 

Título Original: A Viagem de Yoani

Direção: Raphael Bottino, Peppe Siffredi

País:Brasil/Cuba

Gênero: Documentário/Biografia/História

Ano de produção: 2014

Duração: 75 Min

Classificação:10 anos

Distribuição: Elo Company

Data de estreia:23/04/2015

 

 

Marcas da Água

Marcas da Água" é um documentário sobre como a água moldou os nossos afazeres e as localidades as quais habitamos  ao longo da história da humanidade. E não somente relativo à sobrevivência, mas também em relação ao mapeamento de nossa história através de pesquisas nas grandes geleiras do planeta.

 

A dinâmica do longa-metragem se dá da seguinte forma: enquanto pesquisadores na Antártida fazem escavações de até 25.000 metros abaixo da superfície de rios congelados, outra equipe faz uma viagem por dez paises, dentre eles: EUA, Índia e  China mostrando os usos da água. A agricultura no Texas, o uso industrial num curtume na Índia, a construção de hidrelétricas ao redor do mundo para geração de energia; as atividades turísticas como o circuito de surf no continente indiano; os aspectos espirituais  envolvendo a água, através dos rituais hindus e dos aborígenes candenses. "Marcas da Água" aborda, ainda, as teorias sobre o surgimento da água, as científicas, as espirituais e culturais. A água permeia todos os aspectos da existência humana através de vinte histórias numa jornada espetacular.

 

Dirigido por Jennifer Baichwal, afeita a documentários científicos, como "Act of God" (2009) em que aborda os aspectos metafísicos envolvendo raios e trovões paralelo as teorias da ciência e; Edward Burtynsky, fotógrafo estrela do premiado documentário "Manufactured Landscapes" (2006).  "Marcas da Água" ganhou prêmios nos festivais do Canadá: Toronto, Directors Guild e Genie Awards; e ainda foi indicado para as categorias de melhor filme e melhor documentário no Festival de Vancouver.

 

A obra de Baichwal e Burtynsky é um registro imagético com mais de duzentas horas de material gravado e aproximadamente setenta e cinco horas de imagens de arquivo. Tudo isso compilado em noventa minutos de exibição. É um documentário que se dirige a um público específico, mais voltado para os aspectos de pesquisa científica ou militância ecológica e de sustentabilidade. Para os demais vai parecer meio enfadonho, pois, apesar da abordagem cotidiana, é uma obra bastante técnica. Mas para quem se habilitar, a viagem vale o ingresso.

 

 

Título Original: Watermark

Direção: Jannifer Baichwal e Edward Burtynsky

País: Canadá

Gênero: Documentário

Ano de produção: 2013

Duração: 90Min

Classificação: Livre

Distribuição: Espaço Filmes

Data de estreia: 26/03/2015

 

 

O Sal da Terra

Enfim, vamos conhecer a obra cinematográfica que registra, para a posteridade , a jornada do cidadão do mundo, do fotógrafo e do homem-utopia, Sebastião Salgado. Dirigido por seu filho Juliano Ribeiro Salgado, fotógrafo, diretor e escritor, e co-dirigido, por ninguém menos que, o renomado diretor de cinema alemão Win Wenders, "O sal da Terra" ainda foi indicado ao Oscar 2015 de melhor documentário.

 

A obra cinematográfica em questão é um  documento histórico, uma biografia e uma ode à esperança. Um documento histórico porque registra de  forma sui generis o olhar  imagético de um indivíduo social sobre fatos históricos da humanidade. Biografia porque imiscue a vida pessoal, sua trajetória acadêmica, profissional, familiar à sua grande missão de vida, denunciando as dores do mundo. E uma ode à esperança porque,  Sebastião Salgado com seus setenta e um ano de existência, depois de assistir a tentas calamidades e até adoecer por conta delas, nos dá uma grande lição de recuperação da vida e de fé no homem.

 

Trata-se da vida e obra do brasileiro das Minas Gerais, economista por formação e fotógrafo por vocação e ocasião. A película é o olhar de Sebastião sobre a humanidade, contada em alguns momentos por ele e narrado por seu filho Juliano. O filme cobre desde o seu primeiro livro de fotografias "Outras Américas" (1986) até o seu último projeto - Gênesis - que consiste no reflorestamento e revitalização de alguns vastos hectares de terra na fazenda que fôra de seus pais, e que hoje é patrimônio público para preservação ambiental. Um registro de atividade ecológica de mais de uma década, com o  replantio de aproximadamente dois milhões e meio de mudas, que hoje são jovens árvores. 

 

O documentário é uma justa homenagem a um dos fotógrafos que recebeu os prêmios mais importantes de sua área. E para fazer jus, a obra cinematográfica não ficou para trás. Além de ter sido indicado ao Oscar, levou o prêmio de menção especial  no Festival de Cannes 2014 e o prêmio do juri na mostra "um certo olhar" do mesmo festival; o prêmio do público no Festival de San Sebastian no mesmo ano e o César  2015,o Oscar francês, de melhor documentário.

 

Também pudera, uma história explendorosa dirigida por um diretor indicado ao prêmio maior do cinema por três vezes, por: "Buena Vista Social Club" (1999), "Pina" (2011) e a ùltima pelo próprio "O sal daTerra", Vencedor de outros setenta e cinco prêmios por outras produções, incluindo o Urso de Ouro, como prêmio honorário no último Festival de Berlim. A fotografia merece ser citada num documentário sobre um fotógrafo, é de Hugo Barbier que fez parte das equipes do filmes "Minúsculos - o filme" e "Amazônia", e que juntamente com Juliano Salgado não deixam a peteca cair. A trilha sonora que nos enleva diante dos registros fotógraficos de Sebastião Salgado ao longo de sua vida é de Laurent Petitgand de "Asas do Desejo" (1987) e "Tão Longe, Tão Perto" (1993).

 

Em Suma, O documentário "O Sal da Terra" é uma empreitada bem sucedida em mostrar a saga de um homem no processo de conhecimento do próprio homem. Publicizando  as mazelas da humanidade, as misérias humanas e, por fim, a vida, o florescer e a esperança. O Doc sobre sebastião fecha um ciclo de missão encarnatória. É uma amostra grátis do quanto UMA pessoa pode fazer para tentar entender e melhorar o mundo. É uma lição de esperança e um voto na utopia. Que finalmente nos diz que o tempero da terra somos nós, o sal da terra, representado na pessoa de Sebastião Salgado, somos todos nós. Numa palavra? Inspirador!

 

 

Ficha Técnica:

Obra: O Sal da Terra

Gênero: Documentário/Biografia

Elenco: Sebastião Salgado, Win Wenders e Juliano Ribeiro Salgado

Diretores: Juliano Ribeiro Salgado e Win Wenders

Nacionalidade: Brasil/França/Itália

Ano de produção: 2014

Tempo de exibição: 110 Min

Distribuidora: Imovision

Estreia: 26/03/2015

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